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Tires

“Outrora Tyras, segundo um documento de 1527, de que dei conhecimento aos leitores no n.º 176 d’A Nossa Terra.

Barruncho escreveu Tiris, decerto influenciado pela pronúncia popular da época, e o abade de Miragaia – o único etimólogo, julgo eu, que de Tires tratou -, tímida e resumidamente compara este nome a …Pires! Pouco disse sobre o assunto, e nada perderia, se nada dissesse…

Por falta de informações fidedignas, orais ou escritas, nada posso asseverar; contudo, bem convencido estou de que o étimo do referido topónimo se encüntra no documento supra, isto é, em Tyras. Será assim?

Toda a região de Tires, aliás pouco. extensa, é reservada à cultura de cereais, melhor dizendo, à cultura do trigo.É por isso que os terrenos que cercam a povoação – assim como outros campos circunvizinhos-, estão quase totalmente desprovidos de arvoredo, que, a existir, não só empobreceria a terra, como dificultaria a lavra e a gradagem. Primeiro que tudo, o pãozinho abençoado…

Tratando-se, como se trata, de uma pequena região, é natural que cada um dos moradores do lugar se esforçasse por adquirir uma leira, uma courela – uma tira -, donde pudesse desentranhar o grão bendito que ao depois havia de transformar-se na base da sua alimentação. Das tiras em que o sitio foi dividido proveio, se não estou em erro, o nome da localidade.

Entendo que não devo menosprezar curiosas investigações posteriores, pois bem pode ter acontecido que, por nova via, houvesse descoberto a verdadeira origem do topónimo. Quer-me parecer agora que o nome da localidade nos veio de terras estranhas. Vou dar a razão da minha suspeita:

Não há, no vosso vocabulário comum, a palavra tires, da qual o nome geográfico pudesse provir, como não há no onomástico português o nome Tires, além do que designa o nosse lugar do concelho de Cascais.

Será, pois, lícito supor que tal nome nos veio de fora. Donde? Naturalmente, da vizinha Espanha, como muitos outros. Ora vejamos:

O insígne filólogo e historiador R. Menéndez Pidal, nas suas Origenes del Español, tomo VIII, pág. 306, 4.a edição, fornece-nos esta preciosa informação:

«Tyres – Valentia. Cidade espanhola, com estes dois nomes: O primeiro, Tyris, indígena; o ‘segundo, Valentia, romano.» 

Tiris ou Tyris era também o nome de um rio da geografia antiga, como pode ver-se na Enciclopédia lbero-Americana (Espanha), v. Valência, pág. 580.

Tiris ou Tires se chama ainda uma região, aliás pouco importante, do Sara espanhol (vide Espasa).

Como se vê, são nada menos de três as formas registadas em obras espanholas: Tyris, Tiris e Tires, todas elas concordes com as que se encontram entre nós: Tyras no VI volume, pág. 257, do Arquivo Histórico Português, Tiris nos Apontamentos de Borges Barruncho e Tires, a forma actual.

Parece-me, pois, que nada se opõe a que incluamos a nossa Tires no número das povoações portuguesas nascidas da colonização de povos estranhos. A outros, porém, que nanja a mim, compete resolver em última instânca.

Tyras tinha, em 1527, 10 fogos. Em 1758, 76. Em 1960, Tires tinha 1 887 habitantes.”

In Toponímia do Concelho de Cascais, de J. Diogo Correia, págs. 53-54, Edição da Câmara Municipal de Cascais, Cascais 1964